Entre os livros mais vendidos de 1957 estavam “Peyton place” ("A caldeira do diabo"), de Grace Metalious, e “On the road" ("Pé na estrada”), de Jack Kerouac. Ambos foram marcos culturais: “Peyton place” como precursor da novela dos dias de hoje e “On the road” como um toque de clarim para a geração Beat e, mais tarde, como a bíblia subversiva dos anos 60 e 70. Hoje, “Peyton place” é considerado mais como uma curiosidade histórica, mas “On the road”, que celebra seu 50° aniversário de publicação neste mês, ainda leva uma vida vibrante nos programas dos cursos universitários de Inglês e nas listas de livros para as férias dos colégios, bem como nas mochilas de jovens viajantes.
“Foi um livro que envelheceu bem”, diz Martin Sorensen, gerente da livraria Kepler's Books and Magazines em Menlo Park, na Califórnia. Um número de cópias “considerável” é vendido todos os anos na loja, “com certeza mais do que a média dos livros com cinqüenta anos de idade.” O fluxo de consciência autobiográfico de “On the road” segue os passos de Sal Paradise (um personagem baseado em Kerouac) e Dean Moriarty (inspirado em Neal Cassady, amigo de Kerouac) em suas andanças errantes atravessando o país de um lado para o outro, bebendo, ouvindo jazz e vivendo romances. A editora Viking lança uma edição comemorativa de 50 anos e publica também, pela primeira vez em forma de livro, a versão original que Kerouac datilografou em um pergaminho de 36 metros de comprimento com uma nova análise escrita pelo repórter do "New York Times" John Leland, intitulada "Por que Kerouac é importante: as lições de 'On the road' (Não são o que você pensa)”.
A editora Library of America vai incluir “On the road” em uma coleção dos livros “de viagem” de Kerouac que será publicada no mês que vem. E a Biblioteca Pública de Nova York fará uma homenagem em novembro com a exibição do pergaminho e outros materiais dos arquivos de Kerouac.
Apesar disso tudo ter um apelo sobretudo para os fãs da cultura Beat, “On the road” continua tendo um significado cultural mais amplo, principalmente para os jovens. Apesar de seu papel como estandarte dos valores da contracultura já estar talvez extinto (é difícil continuar na contracultura e ao mesmo tempo ser estampado num anúncio da grife Gap, como foi Kerouac nos anos 90), ele já sobreviveu a muitos outros clássicos cults. Parte do motivo pelo qual o livro tem o poder de resistir ao tempo é que artistas populares sempre fazem referências a ele. (Uma nova versão do livro para o cinema, dirigida por Walter Salles, que fez “Diários de motocicleta”, deve começar a ser produzida no ano que vem.) Todos, de Bob Dylan aos Beastie Boys, inspiraram-se em Kerouac. Mais recentemente, o Hold Steady, uma banda de rock independente, citou “On the road” em seu disco “Boys and girls in America”.
Mais roubados
Com sua imagem de bad-boy e ética de trabalho libertadora, Kerouac “é como uma versão rock n’ roll de um escritor”, diz Joe Landry, 31, vocalista da banda Antecedents, de Portland, Oregon. Como muitas outras bandas, os Antecedents listam Kerouac como influência em sua página no site MySpace. Erik Barnum, gerente de vendas da Northshire Bookstore em Manchester Center, Vermont, diz que ele sempre deixa seis cópias disponíveis, um número bem mais alto do que para os outros livros mais antigos. “É um livro que uma livraria têm de ter na prateleira, ou corre o risco de ouvir uma reclamação como: ‘Você quer dizer que não tem o ‘On the road’ de Kerouac?”, diz ele. Mas tê-lo em estoque pode ser difícil: entre os conhecedores do mundo dos livros, “On the road” tem a reputação de ser um dos livros mais roubados das lojas, diz Robert Contant, dono da livraria St. Mark em Nova York. Contant, que disse ter vendido 36 cópias do livro desde março – um número que “a maioria dos escritores contemporâneos invejaria” – deixa suas cópias próximas ao balcão de informações, para que possam ser monitoradas pelos funcionários. “Ele tem um valor grande nas ruas por causa de sua imagem de fora da lei”, diz ele, “e para os jovens que vêm a Nova York, existe uma idéia romântica sobre a época beatnik.”
Seja você mesmo
Na academia, “On the road” tem uma reputação controversa. “Não acho que o livro seja levado a sério pela maioria dos acadêmicos e críticos de literatura”, diz Bill Savage, um professor sênior do departamento de Inglês da Northwestern University, que dá aulas sobre “On the road” há duas décadas. Ainda assim, diz Savage, seus alunos se conectam com o livro em um nível bastante pessoal. “Os estudantes podem de fato se identificar porque eles vivem num mundo tão mediado pela internet, telefone celular e iPod" diz ele. “Há tantas formas de você não ser aquilo que é, e Kerouac é sobre ser o que você realmente é.” Alguns alunos, entretanto, rejeitam o livro dizendo que ele é datado. Ann Douglas, uma pesquisadora da cultura Beat que ensina o tema há mais de 25 anos em Columbia, admite que os alunos não aceitam o livro como um “evangelho”. Eles o criticam por diversos ângulos, diz ela – achando-o, por exemplo, condescendente com mulheres e mexicanos. Mas Douglas disse que seu seminário sobre os Beats normalmente têm seis vezes mais inscritos do que vagas, e que o livro ainda ecoa fortemente, em parte porque ela dá a seus alunos a tarefa de escrever um ensaio autobiográfico no estilo espontâneo que Kerouac tornou famoso. “Quase sempre os alunos dão o melhor de si escrevendo sobre sua escolha profissional”, diz ela. “É uma invocação para eles deixarem para trás o medo do que as pessoas irão dizer ou do que suas famílias esperam deles e para encontrarem a sua própria voz.”
Atravessando gerações
Na City Lights Books, ponto de referência literária de São Francisco (que vende cerca de mil cópias de “On the road” todos os anos), Lawrence Ferlinghetti, poeta Beat, editor e um dos fundadores da livraria, meditou sobre o contínuo sucesso do livro. Ferlinghetti, 88, diferenciou o trabalho de Kerouac do “Look Homeward, Angel”, de Thomas Wolfe, que ele disse ser “o tipo de livro que você lê quando têm 18 anos e acha maravilhoso, mas se você ler aos 35 ou aos 50 fica envergonhado por causa do tom ultra-romântico e da grandiloqüência exuberante.” Mas tendo lido “On the road” quando foi publicado pela primeira vez, quando tinha 30 anos, e novamente no mês passado, Ferlinghetti disse: "Pode-se dizer que o livro ainda ‘está com tudo’.”
Apesar disso tudo ter um apelo sobretudo para os fãs da cultura Beat, “On the road” continua tendo um significado cultural mais amplo, principalmente para os jovens. Apesar de seu papel como estandarte dos valores da contracultura já estar talvez extinto (é difícil continuar na contracultura e ao mesmo tempo ser estampado num anúncio da grife Gap, como foi Kerouac nos anos 90), ele já sobreviveu a muitos outros clássicos cults. Parte do motivo pelo qual o livro tem o poder de resistir ao tempo é que artistas populares sempre fazem referências a ele. (Uma nova versão do livro para o cinema, dirigida por Walter Salles, que fez “Diários de motocicleta”, deve começar a ser produzida no ano que vem.) Todos, de Bob Dylan aos Beastie Boys, inspiraram-se em Kerouac. Mais recentemente, o Hold Steady, uma banda de rock independente, citou “On the road” em seu disco “Boys and girls in America”.
Mais roubados
Com sua imagem de bad-boy e ética de trabalho libertadora, Kerouac “é como uma versão rock n’ roll de um escritor”, diz Joe Landry, 31, vocalista da banda Antecedents, de Portland, Oregon. Como muitas outras bandas, os Antecedents listam Kerouac como influência em sua página no site MySpace. Erik Barnum, gerente de vendas da Northshire Bookstore em Manchester Center, Vermont, diz que ele sempre deixa seis cópias disponíveis, um número bem mais alto do que para os outros livros mais antigos. “É um livro que uma livraria têm de ter na prateleira, ou corre o risco de ouvir uma reclamação como: ‘Você quer dizer que não tem o ‘On the road’ de Kerouac?”, diz ele. Mas tê-lo em estoque pode ser difícil: entre os conhecedores do mundo dos livros, “On the road” tem a reputação de ser um dos livros mais roubados das lojas, diz Robert Contant, dono da livraria St. Mark em Nova York. Contant, que disse ter vendido 36 cópias do livro desde março – um número que “a maioria dos escritores contemporâneos invejaria” – deixa suas cópias próximas ao balcão de informações, para que possam ser monitoradas pelos funcionários. “Ele tem um valor grande nas ruas por causa de sua imagem de fora da lei”, diz ele, “e para os jovens que vêm a Nova York, existe uma idéia romântica sobre a época beatnik.”
Seja você mesmo
Na academia, “On the road” tem uma reputação controversa. “Não acho que o livro seja levado a sério pela maioria dos acadêmicos e críticos de literatura”, diz Bill Savage, um professor sênior do departamento de Inglês da Northwestern University, que dá aulas sobre “On the road” há duas décadas. Ainda assim, diz Savage, seus alunos se conectam com o livro em um nível bastante pessoal. “Os estudantes podem de fato se identificar porque eles vivem num mundo tão mediado pela internet, telefone celular e iPod" diz ele. “Há tantas formas de você não ser aquilo que é, e Kerouac é sobre ser o que você realmente é.” Alguns alunos, entretanto, rejeitam o livro dizendo que ele é datado. Ann Douglas, uma pesquisadora da cultura Beat que ensina o tema há mais de 25 anos em Columbia, admite que os alunos não aceitam o livro como um “evangelho”. Eles o criticam por diversos ângulos, diz ela – achando-o, por exemplo, condescendente com mulheres e mexicanos. Mas Douglas disse que seu seminário sobre os Beats normalmente têm seis vezes mais inscritos do que vagas, e que o livro ainda ecoa fortemente, em parte porque ela dá a seus alunos a tarefa de escrever um ensaio autobiográfico no estilo espontâneo que Kerouac tornou famoso. “Quase sempre os alunos dão o melhor de si escrevendo sobre sua escolha profissional”, diz ela. “É uma invocação para eles deixarem para trás o medo do que as pessoas irão dizer ou do que suas famílias esperam deles e para encontrarem a sua própria voz.”
Atravessando gerações
Na City Lights Books, ponto de referência literária de São Francisco (que vende cerca de mil cópias de “On the road” todos os anos), Lawrence Ferlinghetti, poeta Beat, editor e um dos fundadores da livraria, meditou sobre o contínuo sucesso do livro. Ferlinghetti, 88, diferenciou o trabalho de Kerouac do “Look Homeward, Angel”, de Thomas Wolfe, que ele disse ser “o tipo de livro que você lê quando têm 18 anos e acha maravilhoso, mas se você ler aos 35 ou aos 50 fica envergonhado por causa do tom ultra-romântico e da grandiloqüência exuberante.” Mas tendo lido “On the road” quando foi publicado pela primeira vez, quando tinha 30 anos, e novamente no mês passado, Ferlinghetti disse: "Pode-se dizer que o livro ainda ‘está com tudo’.”
Tradução: Eloise De Vylder
PS: esse livro do Kerouac me marcou bastante. Leitura obrigatória para quem vive de Rock and Roll e "cositas mas", como diria titio Marcos antonio que também confessa que foi marcado pelo livro de Jack Kerouac.
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