Vômito Diário VI - Por que não um peido?

- Fia... estou aqui na praça. Vem aqui que preciso falar com você. - me liga Marcos.

"Pronto", pensei, "agora ele quer terminar o namoro comigo! Bestão!". É feio julgar o antes, mas depois da briguinha besta que eu e o Marcos tivemos de manhã, achei que seria a primeira coisa que ele pensou, embora o tom de voz do telefone esteja mais singelos, como se nada tivesse acontecido.

Na praça da "Toco", procurava por ele e o vejo acenando com a mão e fui em sua direção. As crianças do colégio adventista tomavam sorvete debaixo das árvores e o Marcos me olha com um sorriso bobo. Ele estava bem.

- Diga. - disse meia desconfiada ao sentar no banco de cimento.

- Só queria ficar aqui na praça com você. - de todo o modo, estava tudo esquecido.

Ele olha pra baixo, pega em minha mão e pergunta:

- "Fia", você quer mudar de cidade?

- Por quê?

- A Valéria abriu uma padaria lá em Itapecirica e ela quer que eu tome conta. Mesmo esquema da lanchonete... porque a dona Zoraide falou que ela está sem receber faz dois meses lá na Feira Limpa.

- Bem que falaram...

- Mas me pagaram certinho...

- Primeira semana eles devem pagar mesmo. Alí é sempre vazio. Por isso que não pagam direito.

- Fiquei desanimado quando ela falou isso... - e baixou a cabeça. - Eu acho que a padaria dá certo... "Fia", estou cansado em trabalhar pr'os outros...

- É que você não teve sorte de arrumar um patrão honesto... quero dizer, acho que eu fui a sortuda na história em ter os patrões que tenho.

Ele me olha com um ar pensativo. Quando o Marcos desanima com alguma coisa, se bem conheço o namorido que tenho, não tem chances de voltar atrás, embora ele entre de cabeça em algum negócio, ele cai fora o quanto antes de dar errado. Por que não arriscar mais uma vez? Aliás, de que adianta um peido para quem está cagado?

O vento batia nas árvores de flores amarelas diante dos nossos faces. Percebia que nos olhos dele demonstrava um ar de decepção e melancolia. Marcos odiava perder.

Respirei bem fundo...

- Dói falar isso, mas... acho melhor eu ficar. Eu não posso sair da EMD, eles me pagam certinho, eles são honestos e lá é garantido... e preciso terminar meus estudos. Você faz a sua vida e eu faço a minha. Depois juntamos.

- Eu concordo com você...

- Eu alugo um quarto... o problema é que recebo tão pouco...

- Eu te ajudo.

Eu sei que ele me ajuda... Eu e o Marcos nunca tivemos medo dos novos desafios que enfrentamos, o maior problema será uma coisa que nunca enfrentamos juntos: a distância...